Alguém esperava outra coisa? Serra desmente versão de executivo da Siemens. Afinal, se me pegarem de meia, ainda tenho uma desculpa.
À PF, Serra desmentiu executivo da Siemens
Redação
09 novembro 2014 | 17:30
Senador eleito pelo PSDB disse, no
depoimento de 29 de outubro, que não pediu a Nélson Marchetti para
multinacional deixar de ir à Justiça
Por Fausto Macedo
O senador eleito José Serra, do PSDB, negou à Polícia Federal que em
2008 tivesse advertido o executivo Nelson Branco Marchetti, da Siemens,
para que a multinacional alemã não entrasse com ação na Justiça
contestando a contratação da espanhola CAF na licitação para compra de
384 carros da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
O depoimento de Serra ocorreu no dia 29 de outubro na PF em São Paulo
no inquérito que investiga a ação do cartel metroferroviário. Seu
relato, agora conhecido na íntegra, foi tomado pelo delegado Milton
Fornazari Junior. São duas páginas da versão do ex-governador.
Em acordo de leniência firmado em 2013 com o Conselho Administrativo
de Defesa Econômica (CADE), a Siemens denunciou que o cartel agiu no
período entre 1998 e 2008, no Distrito Federal e em São Paulo (governos
Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin).
A PF chamou Serra porque ele foi citado formalmente por Nélson
Marchetti, um dos lenientes do acordo que a Siemens fechou com o CADE,
órgão antitruste do governo federal.
Segundo Marchetti, durante um encontro na Holanda, em 2008, Serra,
então governador de São Paulo (2006/2010), o advertiu que se a
multinacional alemã recorresse judicialmente contra a licitação vencida
pela CAF ele anularia a concorrência. “No edital havia a exigência de um
capital social integralizado que a CAF não possuía. Mesmo assim, o
então governador (José Serra) e seus secretários fizeram de tudo para
defender a CAF”, afirmou Marchetti.
À PF, o ex-governador desmontou a versão do executivo. Inicialmente,
Serra disse que “não se recorda de ter tido contato com ele (Marchetti),
tampouco se lembra de ter conversado com ele” durante um evento do
setor metroferroviário internacional, em Amsterdã, Holanda, ocorrido no
primeiro semestre de 2008.
A PF indagou a Serra: “No âmbito da licitação para aquisição de 320 e
64 carros da CPTM, manifestou a Nelson Branco ou a qualquer outra
pessoa, inclusive seus secretários ou outros subordinados, que se
abstivessem de propor recursos administrativos ou ações judiciais contra
a decisão administrativa de qualificação da empresa CAF?”
A resposta do ex-governador: “Não.”
Serra declarou que “o entendimento adotado na época foi que caso o
vencedor do certame fosse desalojado pela Justiça, na qualidade de
governador, orientaria o cancelamento do certame, convocando nova
licitação, eis que a segunda melhor proposta era R$ 700 milhões,
aproximadamente, acima da proposta vencedora”.
Questionado se teve conhecimento sobre a formação do cartel,
pagamento de propinas para servidores públicos paulistas e caixa 2 para
campanhas políticas, no âmbito das licitações da CPTM e do Metrô de São
Paulo, auto denunciadas ao CADE, o senador eleito pelo PSDB respondeu:
“Que não teve conhecimento, se soubesse teria tomado as providências e
acha bom que se investigue.”
A PF perguntou a Serra se ele conhecia o executivo José Luís
Alqueres, ex-presidente da Alstom, empresa apontada como integrante do
cartel. O motivo do questionamento foi um e-mail de Alqueres, no qual o
ex-número 1 da multinacional francesa no Brasil diz a seu interlocutor
que o então governador teria participado das negociações que envolveram a
compra da Mafersa pela Alstom. Serra respondeu: “Que não se recorda de
ter opinado sobre o assunto. Que se recorda de ter conhecido José Luís
Alqueres aproximadamente em 2009 ou 2010, quando ele era presidente da
Associação Comercial do Rio de Janeiro. Que não se recorda de ter tido
contato com José Luís Alqueres na qualidade de presidente do Grupo
Alstom, seja como prefeito ou governador.”
Ele disse que na época foi convidado por Alqueres para dar uma palestra.
O tucano afirmou, ainda, que “não se recorda” de ter recebido, na
qualidade de governador, dirigentes ou representantes do setor
metroferroviário. “Como autoridade pública recebe ou cruza com muitas
pessoas, inclusive comitivas de vários setores, mas não se recorda de
ninguém deste setor metroferroviário nominalmente.”
Ele afirmou que “não conheceu” o executivo Arthur Teixeira, que a PF
aponta como lobista do cartel. Declarou que “não discutia diretamente
com o presidente ou diretores da CPTM e do Metrô, acerca das licitações
conduzidas por essas empresas públicas”.
Segundo Serra, quem tratava com o Metrô e a CPTM “eram o Secretário
de Transportes Metropolitanos, a Casa Civil ou a Secretaria do
Planejamento”.
Também declarou que “não conheceu” três ex-diretores da CPTM que a PF
já indiciou criminalmente por corrupção passiva e organização criminosa
– João Roberto Zaniboni, Oliver Hossepian e Ademir Venâncio de Araújo.
Eles negam os crimes que a PF lhes atribui.
Ao final da audiência, Serra entregou ao delegado Milton Fornazari
Junior cópia do despacho da Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo
que decretou o arquivamento do inquérito civil na área de improbidade
administrativa sobre sua suposta participação no cartel
metroferroviário.
Serra grifou 15 linhas do documento
da Procuradoria-Geral: “A leitura atenta das declarações da referida
testemunha (Nelson Marchetti) conduz justamente ao entendimento
contrário. O relato, longe de levantar suspeita contra o ex-governador,
revela, ao contrário, a justa preocupação do Chefe do Executivo (Serra)
em relação aos prejuízos que poderiam advir ao Estado caso a proposta
vencedora do certame (apresentada pela empresa CAF) fosse desqualificada
em virtude de medidas judiciais intentadas pelo Siemens.”
LEIA A ÍNTEGRA DO DEPOIMENTO DE JOSÉ SERRA À PF
Fonte:
http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/a-pf-serra-desmentiu-executivo-da-siemens/